Meios-termos

Não gosto dos meios-termos. Sobre ter que escolher a água ou o fogo. É a meio caminho do fogo que estou, estando também a meio caminho da água. Odeio os meios-termos, exatamente por me encontrar neles.

Água acaricia, fogo abraça. Ambos amam...

Fogo incendeia, água afoga. Ambos matam!

Nos dias de calor sinto falta dos de frio, nos dias de frio sinto falta dos de calor.

Na sede eu quero água, no vento quero cobertor.

Da boca dele quero um beijo, dos teus braços encontrar um outro amor.

Quero o brilho da chuva e o do sol. O domingo de tédio e o de carnaval. O azul da luz e o negro do mar. Ver o dia amanhecer e caminhar sob o luar.

Te seguro com a mão direita e nego a esquerda. 

Adoro a alma, toco, beijo, cativo, vivo! Amo a carne, agarro, mordo, machuco, mato!

Mas o coração é isso mesmo meio físico, meio abstrato. Meio pausa, meio ato.

Não gosto dos meios-termos. Sobre ter duas escolhas e querer optar por ambas. Estou no meio de uma vida, sem ter uma paralela que me dê todo o contrário. Odeio os meios-termos e não poder esquecê-los num armário...

"Alguns dizem que o mundo acabará em fogo,

Outros dizem em gelo.

Pelo que provei do desejo

Fico com quem prefere o fogo.

Mas, se tivesse que perecer duas vezes,

Acho que conheço o bastante do ódio

Para saber que a ruína pelo gelo

Também seria ótima

E bastaria."

[Robert Frost]