quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Marca.

Levantou, olhou o corpo e o desejou marcado.
Toda figura que pudesse ser um sinal,
Toda figura que pudesse fazê-la ser desigual,
Diferente de todo corpo branco imaculado.

Quis fazer uma clave nas costas do punho
Quis prender a alma ao corpo e então fez um laço
Como os que usava quando era menina nas costas do braço.
Quis que o corpo refletisse o cunho.

Que refletisse a alma, aquilo que ama
Que refletisse a angústia de um amor distante
Que refletisse a nostalgia de uma fotografia na estante.
De repente, não é um corpo comum sobre a cama.

O laço prendendo a alma ao corpo e os pés ao chão
Um estigma. O toque de tinta que faltava à tela
O corpo passou a ser obra dela. Uma obra bela.
E na penumbra da vela, o amor atrás do punho, é uma canção.






Um poema para as minhas tatuagens. Eu gosto tanto dos poemas que o Cássio escreve! Não é a toa que tenho um coleção de sonetos dele bem guardados em uma caixinha artesanal *-*

terça-feira, 28 de setembro de 2010

(In)Presença

Seus pés abaixo dos meus, eles dançam de modo desajeitado e terno. Há uma música, mas a que ouço vem de dentro de nós, de um sonho ou lugar nenhum, um ritmo descompassado e simples. É fácil ser criança ao seu lado. O seu rosto descobrindo o meu, até que sua boca foi surpreendida pela minha. Me lembro dos seus lábios, chantily e veneno. É engraçado, quando queremos que as mentiras se tornem verdades elas são verdades! Creio que os tique-taques tenham cansado de contar nossos beijos. Até eu mesma dormia. Então seu braço envolvia o meu pescoço, seu corpo desenhava o meu. O encantamento do sono. A luz além da janela. No fundo da minha cabeça, os olhos distantes pelos quais eu sempre vejo o mar.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Atualizando a Lista


45. Ser penetra numa festa. (no mês passado entrei numa festa dentro do porta-mala de um carro, foi incrível!)
48. Fazer uma tatuagem. (enfim, hoje fiz a tatto, ou melhor, as tattos. Assim que tiver fotos posto aqui)
54. Cantar bem alto no carro e não parar quando perceber que tem gente olhando. (queria muito fazer isso. hoje vi uma mulher que teria riscado esse item da lista, em plena 7 horas da manhã ela passou cantando "When You're Gone" da Avril Lavigne em frente a auto escola onde estou tirando carta)

Estou muito feliz! *-*

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ontem, Hoje e Mais Um Mês

O suor faz cócegas
O calor gruda na pele
O sol pesa sobre a cabeça

O pulmão escapa. O estômago vira

A estação aborrece
A brisa quente asfixia
A sua ausência mata!

A primavera chega. Você, nada!

domingo, 19 de setembro de 2010

Azul

É que eu me ponho a imaginar "e se você estivesse aqui?". Gosto de pensar em como as coisas seriam...
Quantas inúmeras vezes eu não te vi chegando? Imaginei nossos abraços, nossos diálogos e beijos - não necessariamente nessa ordem. São hábitos diários.
E as vezes em que acordei de um sonho com você, era como ser expulsa de uma obra surrealista colorida e rica. Rica de mim, rica de você, de nós dois. As pinceladas que nos fizeram juntos e completos, elas só poderiam ser daquela mão que não vi, de Morfeu. Queria dormir sempre, só pra sonhar com você.
Mas essa noite eu não te encontrei no labirinto do meu subconsciente e só de ouvir seu nome me dói. 
É você pra preencher minha solidão, segurar a minha mão, colocar meu rosto perto do seu e olhar nos meus olhos, sentir nossa respiração. Gosto de quando você diz "Te quero comigo". Gosto e dói tanto, tanto.
Já tive as lágrimas de hoje! Elas não cabem em mim. A Falta não cabe em mim, "sobra tanta falta".

Essas coisas são meio piegas, eu sei, mas me faz tão bem lembrar de tudo que é relacionado a você, quebra o tédio do domingo.
É fim de tarde. Olhei para o azul. Me faz lembrar o mar, lembrar você. E se pudesse beberia o azul todo, o do céu e o do mar, só pra ser mais cheia de você. Completa. Azul!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Lacuna

Eu, Lacuna.

"Se só me faltassem os outros, vá um homem consolar-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo."


[Machado de Assis em Dom Casmurro]

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Flores

Fotografia: Sillas H.
Dizem que não se sobrevive de sonhos. Nem de flores.
Pois eu tenho sobrevivido todos esses anos. Tenho me doado aos meus sonho, tenho doado as flores.
E se não me restar coisa alguma? Seremos eu e as flores. Doadas a estranhos. Aos passantes nas ruas, aos motoristas e seus veículos esperando o verde em meio ao trânsito, aos embriagados dos bancos na praça, aos sorrisos e olhares sem nome.
Ainda assim eu viveria de flores. Não pediria nada em troca. Não recusaria a benção sem assinatura nem dedicatória.
Ver as rugas do rosto da velha senhora, que há muito não ganha margaridas, se esticarem de alegria cansada. Entregar a rosa a mulher sempre triste que nunca foi picada por espinhos - até então...
Me bastaria uma mão estendida para recolher junto ao peito o amor-perfeito.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Dia de Dependência

Fotografia: Sillas H.
Era terça-feira. Parecia domingo.
O dia era de independência.
A semana estava no meio. Eu estava no meio dos cobertores e do tédio.
A TV em preto e branco. O radio fora de sintonia. A sopa sem graça. O tempo vagaroso passante.
O dia era de independência.
O dia se foi.
Foi-se o tempo em que eu não dependia.
A garoa fina caía. Dependo de você pra dar um sorriso no fim do dia.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O Espectro.

Ela sonha muito.

Quase que abdica a vida por ele,
E eu entendo porque já fiz igual.
Ela sonha muito.

Ela sonha tanto
Que a cabeça não segue o ritmo
E acaba sonhando o coração.
Ela sonha sempre.

Ela sonha demais
Mais que qualquer um que sabe sonhar
Ou soube um dia, ou ainda saberá
Hoje a noite ela vai sonhar.

Vai sonhar de novo
Mas não da mesma forma que sonhou.
Tudo diferente, dessa vez, ela poderá tocar
O homem que ela tanto vê, e tanto quer.

E há de querer se acordar
E correrão as horas, ela contará
E vai dormir para encontrar esse rapaz
Que tanto a vê, e tanto a quer.

Ela acordará, e vai sentir dor
Vai dor e gritar porque o olho abriu e ele se foi
Correrá os campos do sul atrás dele
Mas só o encontra ao desmaiar.

Ele é um espectro que a assombra
Ele é uma dor que a assola
Ele é um sonho que a atormenta
Ele é um destino. E ela o quer.





Cássio obrigada por dizer por mim o que eu não consegui. Me emocionou, lágrimas rolaram. Obrigada mesmo!

sábado, 4 de setembro de 2010

Rascunho

Minhas tentativas de escrever tem sido frustradas, externar sentimentos é difícil quando não se tem certeza do que se sente. É sempre a mesma droga de indefinição.
Queria ir para uma praia deserta, me esticar na areia, sentar embaixo de uma árvore centenária e solitária pra ler um livro ouvindo as ondas, sentir o cabelo grudando por conta da maresia, - nunca gostei disso mas agora seria como pisar no paraíso - o cheiro de sal ardendo nas narinas e nos olhos. Se pelo menos você estivesse aqui... ajudaria bastante!
Então meus olhos enchergam tudo em vermelho, dizem que é o cor da raiva. Eu chamo de ódio... de qualquer maneira deve ser raiva mesmo, sou a hipérbole personificada. Ou talvez seja só a loucura que bate à porta da mente e coração.
Que porcaria! Faltam alternativas. Não queria nem saber das horas, eu nunca mais fui naquele lugar. Me sinto pior que todo mundo, eu ia sair mas meus pais me largaram aqui porque eu ainda não estava pronta, eu nunca estou pronta. Não estou pronta pra sair, não estou pronta pra ser independente, pra fazer uma tatuagem, pra preparar minha própria comida, pra sair de casa, pra não precisar de ajuda... Não quero saber das horas!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Felicidade Em Conta-gotas

Não foi fácil levantar e te deixar sonhando. Minha cama estava quente e o dia lá fora também, mas o dia não te tem.

Corríamos com a noite no fundo de nossas cabeças, havíamos dançado mais uma vez. Amanhecia. Corríamos com os nós das mãos entrelaçados. Meu vestido e cabelo esvoaçavam ao som das risadas. As imagens eram embreagadas. Como da outra vez, tropecei em seus pés, caímos na relva verde. Senti seu coração sob minhas mãos e adormeci.

Acordei abraçando o travesseiro. Minha cama estava quente e o dia lá fora também, mas o dia não te tem.