terça-feira, 26 de outubro de 2010

Lápis-de-cor

As nossas mãos se entrelaçam em dedos firmes. Os sorrisos de canto de boca não são de propósito, são a gota de um sentimento bom que tinha de transbordar por qualquer brechinha que fosse. Afinal os olhos estão fechados e deles não sai nem entra coisa alguma, há uma imagem congelada na retina. Apesar do calor que deixa a pálpebra vermelha, o resto todo é azul. Os olhos são azuis, não os nossos que são cor das coisas sólidas, cor-de-terra, cor-de-lembrança. Refletidos no espelho um é do outro e o outro é de um.
Os olhos que nunca mais te viram, cheios de água salgada, de água do mar, esses sim são azuis e pintam uma aquarela linda de céu e areia, de eu e você.
As mãos, os sorrisos, os olhos, a areia, o céu, o mar, eu e você. Juntos de novo e pela última vez congelados no calor da praia pelos lápis que sabem de cor. Pelos meus lápis-de-cor.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

We're Going Very Far

Uma felicidade súbita me tomou agora. Vontade de escrever sobre algo que gosto e que é independente de mim. Até porque as coisas que dependem de mim dificilmente acontecem. Ando meio entediada, com vontade de fazer coisas diferentes, tirar férias dos estudos e trabalho que nem tenho. Talvez trilhar o caminho inverso de quem trabalha e vai à escola seja uma opção: arrumar um emprego ou enfiar a cabeça nos livros, sinceramente não sei qual das duas me dá mais preguiça.
Sim, estou me saindo uma perfeita burguesinha mimada. Que merda! Mas é que lá no fundo eu queria ganhar a vida com uma banda independente que faz um som que não é pra qualquer um. Ou qualquer coisa tão artística, louca e independente quanto.
Mas chega de viajar nessa minha mente maluca de hippie que eu vim aqui exatamente pra falar de um som que não é pra qualquer um...

Até o ano passado minha banda favorita era Panic! At The Disco, mas a banda se separou e eu fiquei inconsolável. Aí surgiu a The Young Veins, criada pelo ex-guitarrista e ex-baixista do Panic! Amei o primeiro single que eles lançaram Change e o CD Take A Vacation ficou incrível, adoro o estilo retro, me lembra The Beatles, que pra mim são os melhores.
Então nesse meu momento de preguicinha aguda eu ouço The Young Veins, com gosto de chá gelado na boca, me imaginando em alguma praia deserta na Califórnia, sem nada pra fazer. 
E pra quem gosta de uma musica que seu  pai doido ouviria, eu recomendo!
http://www.myspace.com/theyoungveins

I need to take a vacation 
If this is settling down 
Then why aren't you here? 
I want a big celebration 
The night we get back in town 
And I hope you're all there 

Leave the waves in the ocean
Keep it all in the picture
And leave the cold where we came from
Our loneliness will keep us warm
We're going going going very far

(...)
Leave the past out to pasture
And take the days as they come
And leave the sand in the suitcase
Just so we don't forget the fun
We're going going going very far...


[Take A Vacation - The Young Veins]

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Bê mol

Troca as pernas e cai sobre o piano.
Costuma oscilar graça de bailarina com menina desengonçada
Imagino o que pensa ao voar a dançar com o pano,
Acontece sem muito esforço, quase sempre cai na gargalhada.

Ri feito criança e na cama, cai em si menor.
Quem é essa moça que até quando cai sai notal musical?
Sei que com seus tombos, faz sinfonia muito melhor,
Regida por ela, celos e violinos numa noite de natal.

Meu sustenido e o bemol dela
Juntam-se para fazer uma canção calada,
Uma ode curta e singela.
Pensamos numa letra de mão dada.

Abre a pauta e desenha uma flore em fa sustenido
Eu nunca soube desenhar, marco-a em mim bemol
Fa, do, latejo por mim esquecido.
Pego a mão da moça e ensino o do-mi-sol.

Num abraço aumento a quinta
Para que saia a nona
Venho diminuto, quietinho, para que sinta
Que dos meus versos, não deixou de ser dona.

Moça luz de sol maior
Do bemol e sustenido
Que tomba em si menor
Do mais belo sonho já vivido.




Já é rotina isso aqui *-*

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Domingo

Amou-me as poucas, de um amor sem corpos nem bocas.
Amou-me com olhos e mãos.
De sorrisos e lágrimas, de asas e pés no chão.
Amou-me de momento, inteiro.
Amou-me de um para sempre passageiro.
Amou-me simples, terno
No tempo de ontem, eterno.
Na canção e no abraço, nas unhas desenhando um laço.
De hoje em diante e não mais na semana que vem,
De amar até morrer e só quando convém...

Chegando os 19, os 18 ainda me atormentam

As coisas foram tão lindas nesse fim de semana. Tinha até esquecido que a vida existia. Eu estava apenas existindo. Porque agora não sei se existo mais.
A vida ressoprou na minha alma e eu tinha me esquecido do quanto ela é dura e pesa! É densa, muito mais que eu, me leva pra um poço escuro, pra um vale bem fundo. Alguém me diz, PELO AMOR DE DEUS, como eu saio daqui?
Se agora eu pudesse ter um abraço, aquele sorriso, um ontem, uma resposta, um minuto de certeza que seja. De um amanhã melhor, de uma vida sem frustrações. Eu realmente devo ter algum problema, bloqueio, meus pais devem estar certos...
Era pra esse momento não ser nostálgico, mas eu me sinto em um mundo sem gravidade, flutuando sem motivo, nem foco. No vácuo! Mas ainda assim é denso, revira meu estômogo, fecha meus pulmões, pressiona a minha cabeça e todas aquelas gotas coloridas do domingo chuvoso não passam de uma previa. O prelúdio das lágrimas sem cor e sem respostas.
É só mais uma crise, eu vou me decidir por tomar uma atitude. Amanhã já vai ser tudo esquecido, como se eu não tivesse aprendido nada com tudo isso, nenhuma atitude. Eu sou tão previsível e tediosa. Olha isso: eu sinto tédio na minha própria presença! E assim vai... Quando é que vou aprender algo? Quando eu vou criar coragem pra conseguir me surpreender? Quando serei alguém interessante aos meus olhos?
Não adiantou ter medo dos 18 anos, da responsabilidade. Eu cresci mesmo sem querer! Mas a criança ainda vive, não suportou morrer no meu último aniversário. Aí vem mais um. Até quando ela vai suportar? Os medos ainda tem 4 anos, as dúvidas ainda tem 9, as paixões tem 11, a mulher nasceu com quase 12 e nunca se olhou no espelho. Não sabe nada sobre quem é agora.
A vida não tem nada a ver com existir. Existir é fácil, só requer respirar e sorrir. Viver requer corpo, alma, espírito. Tem gosto amargo. E ainda me falto eu mesma...

Queria poder seguir o conselho do poeta (musico) "eu vou pagar a conta do analista pra nunca mais ter que saber quem eu sou, saber quem eu sou"
Antes a questão fosse só seguir um conselho. Quem sabe amanhã eu não esteja disposta a escrever sobre as impressões belas do fim de semana...

"Hello there, the angel from my nightmare"

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O Tempo Do Vovô

Sinto falta da época em que eu ainda andava a cavalo com meu avô. O outono tinha cheiro de flor de café, comiamos fruta do pé, vovó amassava pão com a mão, eu comia mingau de fubá e raspava o tacho de doce com colher de pau.
O dinheiro era pouco, a roupa também. Mas os sorrisos eram fartos, assim como o alimento que vinha direto da horta e o espaço para brincar.
Nos dias de sol eu e meus vários primos brincávamos no mato, barranco abaixo sobre uma folha de bananeira, cafezal acima no lombo do cavalo para recolher os sacos de café que os camaradas apanhavam. Nos dias de chuva éramos só eu e minha avó ao lado do fogão, faziamos principalmente bolinhos-de-chuva, mas também doce-de-amendoim, curau de milho e biscoitos de nata ou pinga.
A vida no interior do estado de São Paulo ainda tinha ares de interior:a água fresca da mina, o café fresco do fogão a lenha, o leite forte direto da vaca, os dedos coloridos de amora no fim das tardes de verão e a grama molhada de orvalho ao amanhecer. Televisão ninguém tinha e não fazia falta. Relógios eram poucos, carregados nos bolsos, dava-se corda no tempo, hoje ele é a bateria, não precisa mais dos nossos dedos, é independente da nossa vontade.
Hoje o tacho de doces está enferrujado, as verduras vêm do mercado, não tem mais pés de frutas e grãos de café, não como mais mingau de fubá. A água da mina acabou, assim como o vovô.
(Amanda Monteiro)

Esse texto é da minha irmã, feito pra um trabalho de escola. É certo que tem uma mãozinha minha, principalmente quando se trata do fim dramático. Decidi colocá-lo aqui hoje por conta da nostalgia de não sermos mais crianças, em especial nesse dia. Não faz muito tempo que a caçulinha andava por aí toda descabelada, pegando em insetos, fuçando na terra, e ontem quando fui reparar ela já é gente feita, depois de amanhã faz 14 anos e nem tem o cuidado de acenar pra se despedir da infância que se vai. Agora nossas conversas são de um tempo colorido, inocente, sem intrigas que se foi e não volta, o tempo de nossos avós, o de nossos pais e até o tempo que a gente pensa ser nosso. Afinal os tornozelos cresceram e as mãos tem medo de se sujar.
Mas apesar de tudo, feliz dia das crianças! Se não por nós, que seja pela criança que um dia fomos.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Chuvinha Passada

Em outubro as gotinhas de chuva tem cheiro de terra, é poeira entrando e queimando por todo o nariz. Primavera é sair na janela e deixar a água cair, brincar na mão e na língua.
O temporal é uma criança arteira: vem rápido e tira tudo do lugar. Mas também vai embora ligeiro, assim como a criança que era em mim.
A lembrança - De pegar água da goteira, de me demorar com a mamadeira.
Do balanço que eu tinha, do pão que vovó fazia.
Do dedo na tomada, da capa de chuva ensopada.
Da criança que fui, do velho que não sei se serei...
Das brigas com o relógio, me recuso a usá-lo no pulso ou na parede,
de correr em anti-horário e me negar a ter sede. - Essa é emaranhada em meio as veias, é pulso que faz do coração canção cantada.
Os sons ecoam da infância, a chuva ecoa das nuvens. E eu me encontrei no meio desse nada.
A chuva já é passada.