sexta-feira, 29 de junho de 2012

Único

Passou a mão pela testa dela para saber se era real. Olhou-a nos olhos, meio abobalhado, como que para gravar aquela expressão para sempre;
- Só você sorri como você.
- Só você me faz sorrir assim: igual a mim...

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Caminho


Alice in Wonderland - Tim Burton's movie

"Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.
Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice.
Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas - replicou o gato."

(Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Em Um Dia Ensolarado

Além do vidro, o gato olhando o sapato
Flores embaixo da janela, qualquer hora à luz de vela
Uma bicicleta azul no quintal, um tanto de roupas no varal...
Põe flores no envelope e me escreve uma carta? Mas se apressa, hoje já é quarta.
Espero no degrau da escada. Se me mandar daqueles doces, por favor, quero um de cada.
Sou a garota com o livro, tomando chá despreocupada, de alma e roupa respingada.
Ao passar por mim, não repare se minha bochecha ficar carmim...

Estudo - Acordes e Harmonias
Guache sobre Canson

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Vácuo


Se você estivesse aqui para me ouvir...
... se ao menos eu tivesse algo a dizer

 Estamos no vácuo. Mas em embalagens diferentes, é claro!

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Outra Coisa


"Ela queria outra coisa.
- Que coisa?
- Nem ela sabia. Repetia isso o dia inteiro:
Quero outra coisa, eu quero encontrar outra coisa."

(Caio Fernando Abreu - Onde Andará Dulce Veiga?)

terça-feira, 5 de junho de 2012

Intervalos

"Fio tinha conseguido sobreviver ao longo do anos porque decidira escolher, ela mesma, as suas verdades. Assim, certo dia, decidiu de livre e espontânea vontade abandonar definitivamente a semana e os seus dias, que articulavam a vida das pessoas. Desde então, o tempo passara a seguir o curso de seus sentimentos, daquilo que comia ou via. Seu calendário eram pequenos instantes, momentos fugazes passados ao redor do movimento das asas de uma rolinha, ou uma sessão de cinema; suas eras constituíam-se dos livros que lia, suas épocas eram formadas por um cigarro fumado, uma xícara de chá bebida, um morango saboreado. Suas civilizações nasciam e morriam no intervalo de duração da doçura de uma cereja explodindo na boca. Construíra seu pequeno mundo, onde aproveitava o intervalo de cada segundo.
Sentia falta daqueles dias trazidos por uma canção, um filme ou um livro, pequenos golpes de Estado aplicados de forma muito simpática em seu humor.
Naqueles tempos, quando ela era apenas ela mesma, e não aquilo que os outros achavam que ela fosse, dias e noites inteiras passavam sem ela e a deixavam no cais. Aprendera a lidar com isso. (...)
Aterrorizava-se diante da ideia de se tornar parecida com a imagem que os outros tinham dela."

(A Libélula dos Seus Oito Anos - Martin Page)

Trecho do livro que acabei de ler, começado umas quatro ou cinco vezes ele só aceitou falar-me quando me sentiu pronta a compartilhar do seu encantamento: um amontoado de nadas psicológicos que só quem consegue ver nexo no absurdo vai admirar, um intervalo minucioso brilhante entre uma vida graciosa sem aventuras e a excepcional arte que suga vidas que não têm nada. A jornada para um mergulho no Sena.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Sonhar

Walt Disney filmando na praia, Rio de Janeiro - Agosto de 1941

"Um dia aprendi que sonhos existem para tornar-se realidade. E, desde aquele dia, já não durmo pra descansar. Simplesmente durmo pra sonhar.” - Walt Disney