terça-feira, 27 de agosto de 2013

Os Sapatos

O passarinho estava na calçada, nuca encolhida, olhar assustado e, assim que viu o ninho lá em cima foi se afastando em choque até esbarrar em algo. Era um par de sapatos envernizados. O coração palpitou e as penas eriçaram, correu para procurar abrigo. Os sapatos nem o notaram.
Recostou-se no canto do canteiro ente uma bituca de cigarro e uma raiz, debaixo de uma flor. Caira do ninho. Agora, a criaturinha observava todo tipo de pés apressados cravando suas solas e saltos na calçada do parque, já um tanto desgastada pelo tempo. De tempo, de atraso, de pressa.
Um sapato marrom vinha urgente e foi diminuindo o passo enquanto um salto vermelho passava ágil ecoando um toc-toc ritmado, mas logo o padrão voltou acelerado. Passou um tênis correndo e outro desamarrado. Um sapato branco, um manchado, um descorado e mais um envernizado. Passou um pé descalço. Uma bota, uma sandália e um chinelo cruzaram com dois pares de saltos bem apanhados e um terceiro descascado.
 A avezinha se distraíra com a correria dos pés e sem mais nem menos a flor debaixo da qual se escondia fora apanhada, de novo se assustara. Eram mãos pequenas e gordinhas, de dedos curtos. As bochechas eram coradas e os olhos escuros, igual ao cabelo cacheado. O sapatinho rosa pisava meio desajeitado com suas meias brancas de algodão. A menina encarou o pássaro, uma mão segurava a flor e a outra se esticava para pegá-lo. A respiração do pequenino era nervosa e descompassada.
A mãe da garotinha já ia longe na calçada com sua agenda cheia de compromissos quando deu pela falta da filha que vinha em sua direção de braços esticados entregando-lhe algo. Era um passarinho bem pequeno, com poucas penas. Ele tremia. A mãe o tomou e, esquecendo do relógio, olhou para a árvore ali perto, conseguiu ver um ninho. Aproximou-se dos galhos e esticando-se além dos sapatos de salto colocou-o de volta no ninho. Tomou a menina pela mão. Continuou a rotina. A menina ora olhava a mãe, ora olhava para trás. Imaginava o pequenino de volta à sua mãe, de volta ao lar. E continuou a imaginar.


* Texto produzido para a matéria de Português do curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda (UNIFAE)

domingo, 25 de agosto de 2013

Retrato

Sabe os sorrisos no retrato?
É pra mostrar o fato
de que você é exato pra mim.
E vai ser sempre assim.