sábado, 10 de julho de 2010

Órion

“A primeira namorada, tão alta
que o beijo não alcançava,
o pescoço não alcançava.
nem mesmo a voz a alcançava.
Eram quilômetros de silêncio.
Luzia na janela do sobradão.”
(Carlos Drummond de Andrade)

Há uns dois dias eu estava refletindo sobre assuntos variados e algo me levou a pensar nesse poema. Ele marcou meus poucos meses de cursinho, meu professor de Português, Paulinho, costumava recitá-lo em uma voz macia de algodão, tão mansa. Interpretar poemas com ele era a melhor coisa, me lembro dele contando sobre Órion, o caçador gigante apaixonado pelas Plêiades, elas querendo fugir pedem a ajuda de Zeus, que as transformam em pombas e depois em estrelas. Órion tenta se suicidar no mar, mas como era gigante, ainda que fosse para o mais profundo dos mares não adiantava. Por uma fatalidade ele é confundido com um alvo qualquer e tem a cabeça varada por uma flecha de Artemis, que em meio às lágrimas, pede para Zeus colocar Órion entre as estrelas. Para que Órion não voltasse a perseguir as Plêiades é colocada entre as duas constelações, a constelação de Escropião - único medo de Órion.
Tudo isso só pra explicar o quão longe está a primeira namorada, o quão impossível chegar até ela! Lindo!

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