domingo, 11 de julho de 2010

Sempre de brink's

Não faz muito tempo que cheguei de uma Festa Junina (na verdade, Julina). Então tive a curiosidade de saber de onde veio esse nosso costume, descobri que os europeus festejavam o solstício de verão no dia 24 de junho, mesmo dia de São João, por isso mais tarde se cristianizou a festa mantendo alguns costumes pagãos, como exemplo: a fogueira e a quadrilha (que na verdade tem origem francesa, "la quadrille"). Agora essas nossas festas são bem abrasileiradas, onde a fogueira normalmente aquece o frio, juntamente com os ritmos quentes da sanfona e viola e o quentão e chocolate quente.
Eu sei que o fato a seguir não tem nada a ver com Festas Juninas, mas foi inevitável não pensar desse modo: Ganhei na festa um desses ímãs de enfeite e enquanto conversava com uma amiga, eu brincava com ele. Foi quando sem querer eu arranquei o olho do bichinho, e por reflexo disse "Ixi! Quebrei o brinquedo!". Na hora me veio na cabeça uma grande escritora de minha cidade natal, São João da Boa Vista, a ilustríssima Orides Fontela. Um de seus versos por pouco não pulou da minha boca, nós da Trupe TAC costumavamos encená-lo, e aí vai ele:

Ludismo

Quebrar o brinquedo
é mais divertido.
As peças são outros jogos:
construiremos outro segredo.
Os cacos são outros reais
antes ocultos pela forma
e o jogo estraçalhado
se multiplica ao infinito
e é mais real que a integridade: mais lúcido.

Mundos frágeis adquiridos
no despedaçamento de um só.
E o saber do real múltiplo
e o sabor dos reais possíveis
e o livre jogo instituído
contra a limitação das coisas
contra a forma anterior do espelho

E a vertigem das novas formas
multiplicando a consciência
e a consciência que se cria
em jogos múltiplos e lúcidos
até gerar-se totalmente:
no exercício do jogo
esgotando os níveis do ser.

Quebrar o brinquedo ainda
é mais brincar
[Orides Fontela]


As vezes é impossível não pensar em poesia

Nenhum comentário:

Postar um comentário